Eis uma visão feminina e de fora do blog sobre assunto semelhante que vinhamos discutindo aqui a algum tempinho.
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Mulher de uma banda só
Por Valeria Semeraro
Postado em 25/09/2006
Não, ainda não ouvi The Guillemots. Gnarls Barkley, só Crazy. Wolfmother, Espers, Keane, o novo do Rapture, nada disso. Claro que se realmente quisesse já estaria com todos em meu celular, no som do carro, do quarto ou do trabalho. Mas, com licença pela escatologia, não sou absorvente feminino. Para reter algum fluxo de informação, preciso de tempo. Gosto de ouvir devagar, de me apegar às músicas, de ler as letras e cantar junto enquanto dirijo.
Lembro do tempo em que ficava na beira do rádio esperando meu sucesso preferido tocar. Se bem me recordo, apertava rec e pause. Assim que escutava os primeiros acordes do meu hit, soltava o pause. Ficava lá até o fim, rezando para o locutor não enfiar nenhuma vinheta da rádio. Raramente dava essa sorte. Mas o engraçado, é que até as vinhetas entraram pra lembrança. Lembro perfeitamente de uma da Capital FM estragando o fim de Patience, do Guns n' Roses.
Era uma garotinha juvenil e inocente, que acreditava em príncipe e na arte do romance, apesar da bermuda de lycra do Axel. Hoje não tenho mais paciência pra Patience (ó, ó, sacou?), mas quando escuto aquele assobio pastoso, um arquivo guardado na lixeira do meu HD mental se abre e, não só a letra, mas todas as sensações que a música me causava naquela época, voltam. Se naqueles idos anos, eu conhecia bem a bermudinha, a bandana do Axel e a tara do Slash por cobras, hoje nem sei como é o rosto do vocalista do Hot Chip. Nem escutei o novo do White Stripes, última banda de quem fui fã mesmo. É tanta novidade, que nem o terceiro do Strokes, aquela banda tão simpática, eu conheço. São escolhas. Injustas, mas são.
Outro dia, conversando sobre Bloc Party, alguém perguntou se era a banda do vocalista negro. E eu lá sabia? Cantarolei Banquet e nos entendemos. Depois disso fiz questão de conhecer os rostos dos integrantes. É necessário? É indispensável? Claro que não. Mas faz da música mais que instrumentos, sintetizadores, vozes, letras, arranjos, pedais. Não que isso não baste, porque é possível fechar os olhos e se deixar levar por excelentes faixas, mesmo sem ter idéia de quem esteja tocando. Mas prefiro quando o pacote vem completo e o som é também símbolo de algo mais.
Não sou chegada ao Clap Your Hands Say Yeah. Acho a voz do cara (obviamente nem sonho com o nome dele) ir-ri-tan-te. No feriado de sete de setembro fui passar uns dias em São Paulo. Por duas noites seguidas presenciei set lists de fazer chorar de tanto dançar. Em meio a bandas que amo, surge a voz blergh do cara do Clap Your Hands. Sabe o que fiz? Continuei dançando. E o milagre não pára aí. Voltando pra Vitória, me flagrei cantarolando justamente? Clap Your Hands. Continuo não gostando do vocalista, mas a música ganhou outro significado. Quer dizer, ganhou um significado. É a representação de que nada, nem a voz do Alec Ounsworth (viu? até o nome eu sei agora.), poderia abalar a felicidade catártica daquele feriado.
Isso me fez pensar: se tivesse escutado um pouco mais atentamente e pacientemente à banda, teria captado melhor o som? Não sei você, mas realmente existem CDs que precisam de uma segunda, terceira audição pra serem digeridos pelo meu massacrado cérebro. Mas a pressa em acompanhar o que existe de novo, me fez parar no primeiro refrão entoado pelo Alec (íntimo já).
Longe de mim criticar o excesso de informação disponível, mas é que não dou conta. (minha cabeça repete em voz alta "looseeeeeer"). Não é só questão de ter tempo, mas de sofrer de indigestão musical. Preciso mastigar, engolir e esperar o efeito com calma. Adoro esses programinhas tão legais de baixar músicas tão ilegamente, só que a facilidade de acesso somada à quantidade de opções me confunde. Por isso, posso até deixar de ouvir a banda que seria a da minha vida, mas por enquanto, vou manter as mesmas músicas no meu celular até que saiba o nome da minha preferida, que cantarole a faixa seguinte assim que a anterior terminar. Quero ouvir novamente todas as bandas que vou ver no Tim, pra despertar aquela sede e ansiedade saudáveis.
Você também sofre de refluxo musical? Junte-se à mim. Não se obrigue a saber de tudo. Sorte de quem consegue, mas se você, assim como eu, não acompanha as belezuras que são lançadas, permita-se ao apego. Pare naquela banda que gostou tanto. Ouça outros CDs deles, cante milhões de vezes, decore a letra, compre uma camisa. Pode não ser tão cool, mas garanto: é muito gostoso.
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Mulher de uma banda só
Por Valeria Semeraro
Postado em 25/09/2006
Não, ainda não ouvi The Guillemots. Gnarls Barkley, só Crazy. Wolfmother, Espers, Keane, o novo do Rapture, nada disso. Claro que se realmente quisesse já estaria com todos em meu celular, no som do carro, do quarto ou do trabalho. Mas, com licença pela escatologia, não sou absorvente feminino. Para reter algum fluxo de informação, preciso de tempo. Gosto de ouvir devagar, de me apegar às músicas, de ler as letras e cantar junto enquanto dirijo.
Lembro do tempo em que ficava na beira do rádio esperando meu sucesso preferido tocar. Se bem me recordo, apertava rec e pause. Assim que escutava os primeiros acordes do meu hit, soltava o pause. Ficava lá até o fim, rezando para o locutor não enfiar nenhuma vinheta da rádio. Raramente dava essa sorte. Mas o engraçado, é que até as vinhetas entraram pra lembrança. Lembro perfeitamente de uma da Capital FM estragando o fim de Patience, do Guns n' Roses.
Era uma garotinha juvenil e inocente, que acreditava em príncipe e na arte do romance, apesar da bermuda de lycra do Axel. Hoje não tenho mais paciência pra Patience (ó, ó, sacou?), mas quando escuto aquele assobio pastoso, um arquivo guardado na lixeira do meu HD mental se abre e, não só a letra, mas todas as sensações que a música me causava naquela época, voltam. Se naqueles idos anos, eu conhecia bem a bermudinha, a bandana do Axel e a tara do Slash por cobras, hoje nem sei como é o rosto do vocalista do Hot Chip. Nem escutei o novo do White Stripes, última banda de quem fui fã mesmo. É tanta novidade, que nem o terceiro do Strokes, aquela banda tão simpática, eu conheço. São escolhas. Injustas, mas são.
Outro dia, conversando sobre Bloc Party, alguém perguntou se era a banda do vocalista negro. E eu lá sabia? Cantarolei Banquet e nos entendemos. Depois disso fiz questão de conhecer os rostos dos integrantes. É necessário? É indispensável? Claro que não. Mas faz da música mais que instrumentos, sintetizadores, vozes, letras, arranjos, pedais. Não que isso não baste, porque é possível fechar os olhos e se deixar levar por excelentes faixas, mesmo sem ter idéia de quem esteja tocando. Mas prefiro quando o pacote vem completo e o som é também símbolo de algo mais.
Não sou chegada ao Clap Your Hands Say Yeah. Acho a voz do cara (obviamente nem sonho com o nome dele) ir-ri-tan-te. No feriado de sete de setembro fui passar uns dias em São Paulo. Por duas noites seguidas presenciei set lists de fazer chorar de tanto dançar. Em meio a bandas que amo, surge a voz blergh do cara do Clap Your Hands. Sabe o que fiz? Continuei dançando. E o milagre não pára aí. Voltando pra Vitória, me flagrei cantarolando justamente? Clap Your Hands. Continuo não gostando do vocalista, mas a música ganhou outro significado. Quer dizer, ganhou um significado. É a representação de que nada, nem a voz do Alec Ounsworth (viu? até o nome eu sei agora.), poderia abalar a felicidade catártica daquele feriado.
Isso me fez pensar: se tivesse escutado um pouco mais atentamente e pacientemente à banda, teria captado melhor o som? Não sei você, mas realmente existem CDs que precisam de uma segunda, terceira audição pra serem digeridos pelo meu massacrado cérebro. Mas a pressa em acompanhar o que existe de novo, me fez parar no primeiro refrão entoado pelo Alec (íntimo já).
Longe de mim criticar o excesso de informação disponível, mas é que não dou conta. (minha cabeça repete em voz alta "looseeeeeer"). Não é só questão de ter tempo, mas de sofrer de indigestão musical. Preciso mastigar, engolir e esperar o efeito com calma. Adoro esses programinhas tão legais de baixar músicas tão ilegamente, só que a facilidade de acesso somada à quantidade de opções me confunde. Por isso, posso até deixar de ouvir a banda que seria a da minha vida, mas por enquanto, vou manter as mesmas músicas no meu celular até que saiba o nome da minha preferida, que cantarole a faixa seguinte assim que a anterior terminar. Quero ouvir novamente todas as bandas que vou ver no Tim, pra despertar aquela sede e ansiedade saudáveis.
Você também sofre de refluxo musical? Junte-se à mim. Não se obrigue a saber de tudo. Sorte de quem consegue, mas se você, assim como eu, não acompanha as belezuras que são lançadas, permita-se ao apego. Pare naquela banda que gostou tanto. Ouça outros CDs deles, cante milhões de vezes, decore a letra, compre uma camisa. Pode não ser tão cool, mas garanto: é muito gostoso.
9 Comments:
Cara, faço isso até hoje... Ouço um cd até o fim, volto a ouvi-lo e mais e mais e mais. Fico fuçando o encarte, as letras etc.
Se tem alguma coisa que não me preocupa é estar "up to date", como se diz por aí.
Foda-se o tempo. Meu tempo eu mesmo faço.
"Você também sofre de refluxo musical?"
HAHAHAHAH!!!!!!!
ES-PE-TA-CU-LAR!
Virei fã! Tá nos meus bookmarks!
E A PERGUNTA DA VEZ É: POR QUE PESSOAS ASSIM NÃO ESCREVEM EN NOSSOS JORNALECOS?
Por que pessoas como o João Moraes - que arrebentou duas vezes como colaborador da Gazeta - não escrevem regularmente em nossos JORNALECOS?
Vou mais longe: não conheço um jornalista (que esteja trampando no meio capixaba) sequer que mande bem quando o assunto é música.
POR QUE NOSSOS JORNALECOS NÃO CONTRATAM GENTE BOA PRA RESENHAR DISCOS? E LIVROS? E PEÇAS TEATRAIS? E FILMES?
Triste ES, que vive a macaquear os jornais do Rio e de Sampa.
E tome AGÊNCIA JB, AGÊNCIA FOLHA, AGÊNCIA O GLOBO, AGÊNCIA ESTADO ETC.
Vamos patinar sempre nessa mediocridade.
Vamos?
KALUNGA, PLEEEEEAAAASSSEEEEEE, HELPPPP MEEEEEE!!!!!!!!
Diga alguma coisa!!!!
Respondendo ao Caio:
trabalhar na senzala de uma redação, ganhando no máximo mil e poucos (pouquíssimos!) reais pelo resto da vida, ouvindo ordens de editores que pouco ou nada sabem sobre o conteúdo que ordenam - ou ignoram... Isso não é para quem tem amor próprio, me desculpem a generalização.
Jornalismo cultural por si só é uma utopia até mesmo nas citadas grandes redações nacionais por aí.
Um jornalista da Folha de São Paulo, por exemplo, tem salário inicial de R$ 2.300,00. Para a realizade capixaba, seria maravilhoso. Mas some o altíssimo custo de vida da capital paulistana e jogue seu salário no esgoto da Avenida Paulista.
Sobrevivem por aí alguns dinossauros/ícones do jornalismo cultural, que souberam cavar vossos espaços e hoje gozam de prestígio e - imagino eu - alguma boa compensação finaceira. Sorte a deles. Mérito o deles!
Quem tem boas idéias, informação com bases fortes e boa redação, por favor vá criar um blogg ou web site, pois o jornalismo impresso, pelo menos no segmento cultural, está com os dias contados e totalmente fechado para os, ãh, novos talenots. Grana? Preste concurso público, trabalhe no ramo empresarial ou mude de profissão.
continua...
O João Moraes publicou ótimas resenhas na Gazeta - eu li algumas e até comentei pessoalmente com o cara. Gente finíssima, talentoso, inteligente e jornalista das antigas, mas não recebeu um troco sequer pelas tais resenhas ou, no máximo, o valor por "lauda" - não me pergunte quanto custa isso porque é de ofender...
Lembro-me bem quando trabalhei no Gazeta On Line. Minha função era a de um mero repórter - assim como constava na Carteira de Trabalho. Porém, fazia tudo naquela bagaça, de bater todas as fotos a escrever todas as matérias. Tinha que sambar para cobrir micaretas e festas em locais pueris como Swingers e Blow Up e ao mesmo tempo tentar implantar algum conteúdo significante no meio de tudo isso. E ainda dirigia o carro da empresa e gravava para a CBN. pois é, no mínimo eu teria de ser sub-editor, mas era um mero repórter.
Enquanto não se promover o talento e a competência com bons salários nas redações capixabas ao invés de ceder estas funções para parentes que ganham mais de 15 mil reais por mês para fazerem pouca coisa, isso aqui não vai pra frente. E eu não acredito que este panorama vá mudar algum dia.
continua...
POR QUE NOSSOS JORNALECOS NÃO CONTRATAM GENTE BOA PRA RESENHAR DISCOS? E LIVROS? E PEÇAS TEATRAIS? E FILMES?
Por um acaso há espaço para isso nestes "jornalecos"? Há interesse dos "cabeças" em informar o público com um pouquinho mais de profundidade?
Eu sei que existe competente para tal nessas redações. Daí se poderão exercer vossos talentos são outros quinhentos.
Graças aos céus existe a internet e inúmeras páginas para se buscar bons conteúdos.
A propósito, ótimo texto aí do post. Um tanto quanto nostálgico, é verdade. Mas pertinente sobre o quanto o abismo que separa a tal da "geração internet" da nossa (pelo menos quem tem mais de 25 anos) está cada vez mais profundo.
Gostei particularmente da forma como a Valeria expõe uma antipatia incial quanto às novidades, ao mesmo tempo em que utiliza-se de um método desconhecido das atuais gerações ao absorver informação nova.
Definitivamente ficar percorrendo a "mais nova melhor banda do momento" antes que o My Space desta ultrapasse 100 "amigos virtuais" não é do meu feitio. E encaro com igual desconfiança quando alguém arrota por aí que "tal banda é a melhor do momento".
o texto é capixaba até o talo.
e, kalunga, qnto o AMARILDO leva por aquelas charges? apesar de ler o jornal qse inteiro todo dia, é a charge que merece mérito. foda.
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