OS DESCOLADOS
Para você, morador de Vitória, de Colatina, de Vila Velha, de Guarapari, de Porto Alegre, do Rio de Janeiro, de Niterói, dos EUA, da Zooropa etc etc...
Eles andam em grupos de quatro ou mais. Bebem cerveja, de preferência quente e no balcão de algum pé sujo que lhes dê visibilidade. Apreciam o contato direto (mas não íntimo) com o populacho, quando buscam sentir o pulso das raízes brasileiras. Vestem-se sempre como se a roupa a cobri-los fosse irrelevante, ainda que tal desmazelo possa consumir um bom punhado de minutos. São tolerantes, compreensivos e altruístas. Estão sempre dispostos a adotar causas humanitárias, desde que estas não exijam mais do que meia dúzia de palavras de ordem gritadas em alguma aglomeração de conhecidos, daquelas que acabam em festa abastecida de bebidas coloridas. Apreciam o sexo livre, desde que os parceiros da hora usem com eles a sua liberdade. Abominam preconceitos, reservando guetos para gente preconceituosa, e política/filosófica/ideologicamente autodenominam-se anarquistas - sem leitura, reduzem o anarquismo a um paraíso caótico-esculachado. Apesar dos figurinos roqueiros, amam desvairadamente a adocicada MPB, mesmo que isto lhes custe doses aflitivas de paciência, papo e substância. Curtem ficar bêbados com os amigos, e preferem um porre com platéia a uma sobriedade solitária. Ainda sim, prezam a introversão, desde que esta seja suficientemente notada. São modestos, mas não suportam a indiferença alheia. Não gritam, detestam barracos e fogem de quaisquer debates que exijam o confronto. São conciliadores por natureza e jamais resolvem suas questões violentamente. Seus ídolos são, basicamente, dois ou três cantores/compositores inatacáveis de nossa nata mpbística, algum guerrilheiro com pretensões ditatoriais morto ou no caminho da morte redentora, um filósofo existencialista maldito, um pintor picareta, dois ou três teóricos sociais e papai e mamãe, estes os responsáveis pela formação liberal que os conduz. São limpinhos, mais do que gostariam ou admitem. Os homens invariavelmente cultivam uma barba descuidada (nada além de três dias, com muito cuidado), uma cabeleira que se ajeita por si mesma, calças jeans surradas (mas novas) e dois números (pelo menos) acima do permitido, tênis verde, vermelho ou preto. Ou verde, vermelho e preto. O cinto é utilizado, mas o cofrinho permanece exposto, glorioso. As meninas possuem olheiras trabalhadas, fumam cigarros mentolados, usam as mesmas calças surradas e gigantescas, maquiagem privilegiando o negro e tênis verde, vermelho ou preto. Ou verde, vermelho e preto. Detestam futebol, um esporte grosseiro e de alienação. Acreditam em um deus qualquer, são esotéricos e nunca aprofundaram a sua fé. Lêem pouco, mas preocupam-se em memorizar algum trecho marcante de uma obra desconhecida. Acreditam no poder revolucionário do engajamento social, mas não mobilizam-se fora de seu eixo. Querem transar, namorar, ficar e se entregar sem freios, mas não imaginam-se solteiros depois dos trinta anos. Apontam com veemência a caretice da família brazuca, brigam por novos espaços e agem com desdém para com as convenções sociais. Irritados, trancam-se em seus quartos, amaldiçoando a sociedade tecnológica, industrial e castradora. Pragas lançadas, grudam a orelha em seus celulares, acionam o aparelho de som, conectam-se e queixam-se com os companheiros de viagem. São quase sempre estudantes ou profissionais de publicidade, jornalismo, música, teatro, cinema, design, educação e afins. Ah, sim, não esqueçamos os desocupados convictos. Têm entre 16 e 45 anos – não que, claro, a idade possa diferenciá-los. São de classe média – baixa, média, alta, sem problemas. E multiplicam-se porraloucamente.
Para você, morador de Vitória, de Colatina, de Vila Velha, de Guarapari, de Porto Alegre, do Rio de Janeiro, de Niterói, dos EUA, da Zooropa etc etc...
Eles andam em grupos de quatro ou mais. Bebem cerveja, de preferência quente e no balcão de algum pé sujo que lhes dê visibilidade. Apreciam o contato direto (mas não íntimo) com o populacho, quando buscam sentir o pulso das raízes brasileiras. Vestem-se sempre como se a roupa a cobri-los fosse irrelevante, ainda que tal desmazelo possa consumir um bom punhado de minutos. São tolerantes, compreensivos e altruístas. Estão sempre dispostos a adotar causas humanitárias, desde que estas não exijam mais do que meia dúzia de palavras de ordem gritadas em alguma aglomeração de conhecidos, daquelas que acabam em festa abastecida de bebidas coloridas. Apreciam o sexo livre, desde que os parceiros da hora usem com eles a sua liberdade. Abominam preconceitos, reservando guetos para gente preconceituosa, e política/filosófica/ideologicamente autodenominam-se anarquistas - sem leitura, reduzem o anarquismo a um paraíso caótico-esculachado. Apesar dos figurinos roqueiros, amam desvairadamente a adocicada MPB, mesmo que isto lhes custe doses aflitivas de paciência, papo e substância. Curtem ficar bêbados com os amigos, e preferem um porre com platéia a uma sobriedade solitária. Ainda sim, prezam a introversão, desde que esta seja suficientemente notada. São modestos, mas não suportam a indiferença alheia. Não gritam, detestam barracos e fogem de quaisquer debates que exijam o confronto. São conciliadores por natureza e jamais resolvem suas questões violentamente. Seus ídolos são, basicamente, dois ou três cantores/compositores inatacáveis de nossa nata mpbística, algum guerrilheiro com pretensões ditatoriais morto ou no caminho da morte redentora, um filósofo existencialista maldito, um pintor picareta, dois ou três teóricos sociais e papai e mamãe, estes os responsáveis pela formação liberal que os conduz. São limpinhos, mais do que gostariam ou admitem. Os homens invariavelmente cultivam uma barba descuidada (nada além de três dias, com muito cuidado), uma cabeleira que se ajeita por si mesma, calças jeans surradas (mas novas) e dois números (pelo menos) acima do permitido, tênis verde, vermelho ou preto. Ou verde, vermelho e preto. O cinto é utilizado, mas o cofrinho permanece exposto, glorioso. As meninas possuem olheiras trabalhadas, fumam cigarros mentolados, usam as mesmas calças surradas e gigantescas, maquiagem privilegiando o negro e tênis verde, vermelho ou preto. Ou verde, vermelho e preto. Detestam futebol, um esporte grosseiro e de alienação. Acreditam em um deus qualquer, são esotéricos e nunca aprofundaram a sua fé. Lêem pouco, mas preocupam-se em memorizar algum trecho marcante de uma obra desconhecida. Acreditam no poder revolucionário do engajamento social, mas não mobilizam-se fora de seu eixo. Querem transar, namorar, ficar e se entregar sem freios, mas não imaginam-se solteiros depois dos trinta anos. Apontam com veemência a caretice da família brazuca, brigam por novos espaços e agem com desdém para com as convenções sociais. Irritados, trancam-se em seus quartos, amaldiçoando a sociedade tecnológica, industrial e castradora. Pragas lançadas, grudam a orelha em seus celulares, acionam o aparelho de som, conectam-se e queixam-se com os companheiros de viagem. São quase sempre estudantes ou profissionais de publicidade, jornalismo, música, teatro, cinema, design, educação e afins. Ah, sim, não esqueçamos os desocupados convictos. Têm entre 16 e 45 anos – não que, claro, a idade possa diferenciá-los. São de classe média – baixa, média, alta, sem problemas. E multiplicam-se porraloucamente.
21 Comments:
Me encaixo quanto à barba de 3 dias e sobre o discurso sobre causas humanitárias pois, confesso, falo mais do que faço. Deveria mudar isso.
"Nunca toquei a mão da amizade dessa gentalha de cabelos azuis, tênis verdes, saias ou calças vermelhas e mochilas e badulaques nas costas. Nunca lhes dei crédito suficiente. Em nenhum momento percebi lealdade, entrega (e daí, a paixão) e risco nessa turma descolada. E sempre saquei que qualquer manifestação sua de alta cultura não passava de um embuste. Superficiais, insípidos, intolerantes e lenientes. Fracos, dependentes e de pouco gás. Têm o universo pop em grande conta e são incapazes de romper a barreira (página 05) daquele livro. Podem ter 15, 25 ou 40 anos. Estão espalhados pela UFES e arredores. São mais perniciosos que seus contemporâneos da Praia do Canto - estes sequer tentam lustrar o cristal de seu espelho. Não sinto raiva, não mesmo. Nem piedade.
Nunca me enganaram. Nunca apostei um tostão nessa rapaziada. Não vão deixar rastro neste mundo."
Lacaio, são os mesmos, ou esta corja atual é de outros seres?
Marz: certamente não encaixo vc nessa turma.
Mentor: são os mesmos, sem dúvida.
estou com o marz!
caio, se atualiza!!!
este post é de três anos atrás!
o conteúdo dos "descolados" atuais é mais superficial do que o descrito aqui.
vc deu até moral demais para este povo
alguns tópicos do seu post a serem revistos:
- Bebem cerveja, de preferência quente e no balcão de algum pé sujo que lhes dê visibilidade: cara, este povo parece de cristal, logicamente de vestimenta "alternatchiva". se bebessem em "copos sujos" teriam mais entrega.
- São tolerantes, compreensivos e altruístas: agora o povinho tem que ter "atitude", meninas tatuadas e desbocadas - logicamente existem os emos para despertarem o amor ao próximo,e lhe inspirarem a um atropelamento hediondo.
- Apesar dos figurinos roqueiros, amam desvairadamente a adocicada MPB, mesmo que isto lhes custe doses aflitivas de paciência, papo e substância: o tempo em que ser apreciador de MPB significava - na maioria dos casos - uma irritande postura pseudo-intelectual-cabeça já foi, ou ficou perdido em algum grupo de hippies lesados. agora o negócio ficou mais superficial! olha os emos aí novamente!!! Ou então dizem gostar do Devendra Banhart - iguaizinhos a ele: não sabem o que falam, não sabem exatamente o que tocam, não sabem porra nenhuma!
- Seus ídolos são, basicamente, dois ou três cantores/compositores inatacáveis de nossa nata mpbística: cara, o negócio agora é indicar bandas novíssimas para o Lúcio Ribeiro; ter a conexão mais bunda-larga possível; baixar tudo o que puder; não criar afeição por nada que tenha mais de dois meses de exposição na mídia.
- As meninas possuem olheiras trabalhadas, fumam cigarros mentolados, usam as mesmas calças surradas e gigantescas: a moda indie chegou às butiques! roupinhas novinhas em folha e com aquele visual riot girrrrl pra lá de bem-produzido-cuidadosamente-desarrumado.
- Os homens invariavelmente cultivam uma barba descuidada (nada além de três dias, com muito cuidado), uma cabeleira que se ajeita por si mesma, calças jeans surradas: idem às meninas, com a ressalva de que o cabelo "despenteado" deve demorar horas de cuidados frente ao espelho...
no mais, não tiro nem ponho nada: tá no alvo, incisivamente e eternamente, pelo visto...
uma questão aí poderia ter mudado: São conciliadores por natureza e jamais resolvem suas questões violentamente - eu estou malhando, pegando peso e gostaria de surrar um desses, basta que não tentem algum tipo de conciliação...
Kalunga, vamos escrever um manual para esses manés.
vamos transformar um certo point alternatchivo ao lado do bar abertura da lama em uma câmara de gás.
Ô Velhinho...
Estamos de bem?
Mesmo faltando um dialogo sobrio?
Acho que sim!
projeção!
freud explica.
13na, vc tá começando realmente a me encher o saco. Projeção é a PUTAQUEPARIU, sem dúvida. O teu negócio aqui é me pelar o saco, porra?
Se for, VAITOMÁNOCU!
Porque, meu camarada, todo santo post meu tem uma tiração de sarro tua comigo. Já tá me torrando os ovos. Brincar é uma coisa, na boa; escolher alguém como alvo e ficar pegando no pé, outra.
cerveja! vamos tomar cerveja! amanhã!
VAMOS!!!
ora, caio, não fique nervoso.
sabe, vc despertou uma certa curiozidade e, confesso, até uma preocupação em mim agora. tive que dar uma navegada em seus posts daqui pra trás prá tirar dúvidas e não vi comentarios meus, exceto ao post do hughes (que não ví provocação, a não ser de sua parte). não sei de onde vc tirou que to te gastando, te provocando... pára de chorar, bixo.
queria eu ter tempo pra comentar e até ler esses posts da galera, não faço por pura falta.
longe de mim tá engrenando uma discursão com vc, até pq não precisa de mta inteligência pra saber que isso não leva nem à guarapari.
Rapá, então vc não leu nada, poderia citar aqui outros posts em que rolou uma tiração de sarro tua, mas tenho mais o que fazer. O que não aturo é neguim pegar um post meu de trocentas linhas (fundamentado) e sacaneá-lo com frases supostamente sarcásticas e enigmáticas ou sei lá o quê.
Chorar, rapá, quem? Não viaje.
Discordou do que eu disse num post? Apresente um contraponto, esculache etc, mas tente ao menos embasar a tua opinião em vez de simplesmente partir pra tiração de sarro pura pela enésima vez - e com a mesma pessoa.
E, se vc não tem tempo pra ler e responder adequadamente - como vc mesmo disse -, poupe espaço e energia.
Agora, falar em "projeção"? Em "remédios e descanso" (outro post), em "aposto que com um corinho ele volta a escrever aqui" (outro post) etc etc, não dá.
Não queres "gastação"/discussão comigo? Também não quero, assim como não quero que me torrem os ovos gratuitamente.
No mais, que daqui em diante as coisas tomem outro rumo.
Vai na tua que eu vou na minha.
Fui.
hauahuahaaHAUAHha
essa do corinho foi mesmo engraçado e vc deve lembrar do que eu me referia.
e em outro post, não foi "remédios e descanso" que disse, foi TERAPIA E MEDICAÇÃO, e isso não foi brincadeira, eu realmente acredito na cura.
Bem, já disse tudo o que queria e devia dizer.
cerveja! vamos todos tomar cervja hoje!
e talvez surrar uns indies por aí...
o que mais me irrita nesse povinho aí de que você fala é quando eles querem bancar os embaixadores do povo e fazem aqueles discursos de que o povo acredita em tudo o que vê na tv, que a publicidade sacaneia o povo etc. saco. como se "o povo" fosse uma entidade, uma entidade completamente ingênua e idiota e não tivesse inteligência suficiente pra escolher o que quer e o que não quer, enfim, não pensasse. saco!! quanta arrogância!!!!!!!
ah, desculpe pelo comentário mil séculos depois.
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