E que público o seu teatro atrai? Por que em geral suas peças ficam vários meses em cartaz?
A gente tem um público jovem maravilhoso. É um público que não encontra diálogo com nada que interesse à sensibilidade nervosa do corpo dele. Então, eles entram aqui e imediatamente se vêem num lugar em que há a percussão, o ritmo - tem muito rap, muito cordel e todo o tipo de música -, e ao mesmo tempo tem uma libido enorme que os atrai. Tem muito amor, a gente trabalha muito com amor. Agora, o público é de garotada, mas é o seguinte: os velhos que vêm, e vêm várias vezes - o Haroldo de Campos, por exemplo, vinha com garrafa d'água e travesseiro -, gostam também. Isso porque aqui tem vida. Só que a maior parte da minha geração abdicou da vida, são os cidadãos republicanos, os pequenos burgueses que acreditam na República, na cidadania, nos direitos humanos e no comprar e vender. Eles não se dão ao luxo de se entregar a um estar de prazer de O Banquete, de Platão, por exemplo, ou de um jogo de futebol, do Carnaval, de uma sessão de candomblé, de uma rave... Eles se mataram. Há um suicídio nisso, e ele se reflete na própria maneira como o poder é exercido. A máquina de poder é muito fraca, ela "despoderifica". O poder é algo que dá a você uma instrumentação material, de armamento, de dinheiro, mas ao mesmo tempo ele pode te enfraquecer muito como ser humano. E eu acho que essas pessoas todas são fracas. Eu tive uma sorte enorme, eu sobrevivi, eu sobrevivo nessa loucura. Eu mesmo não me entendo, e vou fazer 67 anos...
José Celso, Teatro Oficina, São Paulo.
A gente tem um público jovem maravilhoso. É um público que não encontra diálogo com nada que interesse à sensibilidade nervosa do corpo dele. Então, eles entram aqui e imediatamente se vêem num lugar em que há a percussão, o ritmo - tem muito rap, muito cordel e todo o tipo de música -, e ao mesmo tempo tem uma libido enorme que os atrai. Tem muito amor, a gente trabalha muito com amor. Agora, o público é de garotada, mas é o seguinte: os velhos que vêm, e vêm várias vezes - o Haroldo de Campos, por exemplo, vinha com garrafa d'água e travesseiro -, gostam também. Isso porque aqui tem vida. Só que a maior parte da minha geração abdicou da vida, são os cidadãos republicanos, os pequenos burgueses que acreditam na República, na cidadania, nos direitos humanos e no comprar e vender. Eles não se dão ao luxo de se entregar a um estar de prazer de O Banquete, de Platão, por exemplo, ou de um jogo de futebol, do Carnaval, de uma sessão de candomblé, de uma rave... Eles se mataram. Há um suicídio nisso, e ele se reflete na própria maneira como o poder é exercido. A máquina de poder é muito fraca, ela "despoderifica". O poder é algo que dá a você uma instrumentação material, de armamento, de dinheiro, mas ao mesmo tempo ele pode te enfraquecer muito como ser humano. E eu acho que essas pessoas todas são fracas. Eu tive uma sorte enorme, eu sobrevivi, eu sobrevivo nessa loucura. Eu mesmo não me entendo, e vou fazer 67 anos...
José Celso, Teatro Oficina, São Paulo.
2 Comments:
eu já tive o privilégio de assistir a duas peças deste cara. ainda não tenho a capacidade de avaliar o tipo de experiência que foi...
haroldo de campos rula, disso eu tenho toda certza, ele e toda família!!!
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