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    quarta-feira, março 28, 2007

    ESPECIALMENTE PRA NATI, PRO BRUNINHO E PRO MENTOR





    Declaração de males

    Paulo Mendes Campos



    Ilmo. Sr. Diretor do Imposto de Renda.

    Antes de tudo devo declarar que já estou, parceladamente, à venda.
    Não sou rico nem pobre, como o Brasil, que também precisa de boa parte do meu dinheirinho.
    Pago imposto de renda na fonte e no pelourinho.
    Marchei em colégio interno durante seis anos mas nunca cheguei ao fim de nada, a não ser dos meus enganos.
    Fui caixeiro. Fui redator. Fui bibliotecário.
    Fui roteirista e vilão de cinema. Fui pegador de operário.
    Já estive, sem diagnóstico, bem doente.
    Fui acabando confuso e autocomplacente.
    Deixei o futebol por causa do joelho.
    Viver foi virando dever e entrei aos poucos no vermelho.
    No Rio, que eu amava, o saldo devedor já há algum tempo que supera o saldo do meu amor.
    Não posso beber tanto quanto mereço, pela fadiga do fígado e a contusão do preço.
    Sou órfão de mãe excelente.
    Outras doces amigas morreram de repente.
    Não sei cantar. Não sei dançar.
    A morte há de me dar o que fazer até chegar.
    Uma vez quis viver em Paris até o fim, mas não sei grego nem latim.
    Acho que devia ter estudado anatomia patológica ou pelo menos anatomia filológica.
    Escrevo aos trancos e sem querer e há contudo orgulhos humilhantes no meu ser.
    Será do avesso dos meus traços que faço o meu retrato?
    Sou um insensato a buscar o concreto no abstrato.
    Minha cosmovisão é míope, baça, impura, mas nada odiei, a não ser a injustiça e a impostura.
    Não bebi os vinhos crespos que desejara, não me deitei sobre os sossegos verdes que acalentara.
    Sou um narciso malcontente da minha imagem e jamais deixei de saber que vou de torna-viagem.
    Não acredito nos relógios... the pule cast of throught... sou o que não sou (all that I am I am not).
    Podia ter sido talvez um bom corredor de distância: correr até morrer era a euforia da minha infância.
    O medo do inferno torceu as raízes gregas do meu psiquismo e só vi que as mãos prolongam a cabeça quando me perdera no egotismo.
    Não creio contudo em myself.
    Nem creio mais que possa revelar-me em other self.
    Não soube buscar (em que céu?) o peso leve dos anjos e da divina medida.
    Sou o próprio síndico de minha massa falida.
    Não amei com suficiência o espaço e a cor.
    Comi muita terra antes de abrir-me à flor.
    Gosto dos peixes da Noruega, do caviar russo, das uvas de outra terra; meus amores pela minha são legião, mas vivem em guerra.
    Fatigante é o ofício para quem oscila entre ferir e remir.
    A onça montou em mim sem dizer aonde queria ir.
    A burocracia e o barulho do mercado me exasperam num instante.
    Decerto sou crucificado por ter amado mal meu semelhante.
    Algum deus em mim persiste
    mas não soube decidir entre a lua que vemos e a lua que existe.
    Lobisomem, sou arrogante às sextas-feiras, menos quando é lua cheia.
    Persistirá talvez também, ao rumor da tormenta, algum canto da sereia.
    Deixei de subir ao que me faz falta, mas não por virtude: meu ouvido é fino e dói à menor mudança de altitude.
    Não sei muito dos modernos e tenho receios da caverna de Platão: vivo num mundo de mentiras captadas pela minha televisão.
    Jamais compreendi os estatutos da mente.
    O mundo não é divertido, afortunadamente.
    E mesmo o desengano talvez seja um engano.



    Texto extraído do livro "O amor acaba", Civilização Brasileira - Rio de Janeiro, 1999, pág. 259, organização de Flávio Pinheiro.

    posted by caio at 12:41 AM

    12 Comments:

    Blogger caio said...

    Paulinho Mendes Campos é - sem favor nenhum - um dos maiores poetas e cronistas do Brasil de todos os tempos, tradutor ainda de
    Oscar Wilde, Julio Verne e Shakespeare.

    Foda demais da conta.

    1:25 AM, março 28, 2007  
    Anonymous Anônimo said...

    Minha cabeça é um pinico
    um oceano de idéias
    quando penso, eu e meu pinico
    me alivio, não me sinto só
    mas no banheiro ao diminuir meu peso, vejo
    pensar é bom, cagar é melhor!

    11:03 AM, março 28, 2007  
    Blogger Gil Pender - Livre como um táxi said...

    Eu disse que esse post era especialmente pra Nati, pro Bruninho e pro Mentor.

    Você é cego, Kalango?

    11:47 AM, março 28, 2007  
    Blogger inutilia sapiens said...

    caramba, que texto foda, que cara foda, que amigo foda...
    abração.
    vou guardar o texto.

    12:21 PM, março 28, 2007  
    Anonymous Anônimo said...

    Paulo Mendes Campos rula!

    A gente já havia falado desse livro. Lembra?


    Você me perguntou sobre meus sentimentos com relação a mãe de minha filha. Eu respondi: já leu "o amor acaba - crônicas líricas e existenciais"?

    "... e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos,caindo imperceptível no beijo ... para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba..." (Paulo Mendes Campos)

    1:33 PM, março 28, 2007  
    Blogger Gil Pender - Livre como um táxi said...

    Pois é, lembro sim. Essa crônica é fantástica.

    2:13 PM, março 28, 2007  
    Blogger inutilia sapiens said...

    mandaste pro meu email tb!
    é memso fantástica.

    4:00 PM, março 28, 2007  
    Anonymous Anônimo said...

    Prisão de ventre don´t rula !

    4:44 PM, março 28, 2007  
    Blogger K O R G said...

    ganhei o dia.

    4:46 PM, março 28, 2007  
    Blogger caio said...

    Foda demais, não é?

    5:26 PM, março 28, 2007  
    Blogger nati said...

    :õ

    poxa, caito. mil séculos depois, obrigada :)
    muito boa.

    10:39 PM, março 28, 2007  
    Blogger M.T. said...

    Atrasado, como sempre. Maravilhoso, Caio.

    11:58 AM, março 30, 2007  

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