Conheci o Russo por volta de 93, acho. O cara fazia e vendia camisas em uma estamparia ali pelo centro da cidade. Esbarrava nele vez ou outra e trocávamos algumas palavras. Vindo de Vitória, tinha deixado pra trás a família pra tentar uma parada nova em Guarapari. Depois de bater cabeça um tanto aqui e acolá, resolvera montar um Bar Reggae ou coisa que o valha, sacando que havia uma rapaziada órfã de algo assim desde o fechamento do Laricão, em setembro de 1995. Não que este, como vocês bem sabem, fosse uma praia regueira. Mas o ecossistema roqueiro precisava de um point que catalisasse a raiva, a angústia, a porra-louquice e a putaria de algumas dezenas de cabeçudos, gente teimosa que não queria ver o sol se pôr. A notícia correu bacana pela cidade em meados de junho de 1997. Pouco antes da abertura estive por lá e vi o Russo, o Dedé e o Steve com a mão na massa, na tinta, nos martelos e nos pregos em uma ajeitada final no lugar. Pinturas e bandeiras nas cores jamaicanas, som no talo, balcão generoso, freezer na manha e uma boa chapa dariam conta do recado inicial. O resto seria feito por conta de uma falação desenfreada - causada pela ansiedade e pela expectativa de um bar a ser inaugurado na porta vizinha àquela outra já lendária, na mesma calçada. Coincidência? Maldição? Benção? Tino comercial? Coisa do tinhoso? Provocação? Aposta alta? O jogo tava na mesa pagando nossas mãos.
A inauguração foi em verdade o fim (o cume, o ápice, o alto do monte roqueiro) de festa da última festa válida do Laricão. Estavam lá todos, queiram ou não: os vivos, os mortos e os morto-vivos. Não era permitida a falta, e ninguém faltou. Namorados aturavam-se maravilhosamente, enroladinhos de planta boa corriam de mão para mão, cervejas quentes e menos quentes e até muito geladas escorriam das bocas grandes, Brian Johnson esmurrando Ozzy que lambia a bunda de Robert Plant. A calçada tremia, jogava para o sacode e recebia de volta a omelete humana. Foi bonita a festa, ô pá!, bonita de estar lá. Russo tinha um sorriso de 64 dentes, esfuziante. Estava rolando, era real e ali. A porra do medo de que a coisa miasse tinha ido pro saco, valia a pena de novo, valia a pena brigar por aquilo e suar por aquilo. Era foda, barato, perto, foda de novo, pesado e voador como um rinoceronte com as asas de nossas cabeças. Corríamos como nunca, éramos a parte solta de um mundo despirocado e deslocado do velho eixo. Não era a badalação boateira nem a praia lotada; não era o nheco-nheco do Beco nem a cuzice do calçadão; não era a marra vazia dos shows de verão nem os paraísos de plástico das raves. Era a pilantragem pura e malaca, safada e cheia de ginga com e sem a bola nos pés. Era mais uma vez a noite de 24 horas, sem os relógios nos pulsos.
A inauguração foi em verdade o fim (o cume, o ápice, o alto do monte roqueiro) de festa da última festa válida do Laricão. Estavam lá todos, queiram ou não: os vivos, os mortos e os morto-vivos. Não era permitida a falta, e ninguém faltou. Namorados aturavam-se maravilhosamente, enroladinhos de planta boa corriam de mão para mão, cervejas quentes e menos quentes e até muito geladas escorriam das bocas grandes, Brian Johnson esmurrando Ozzy que lambia a bunda de Robert Plant. A calçada tremia, jogava para o sacode e recebia de volta a omelete humana. Foi bonita a festa, ô pá!, bonita de estar lá. Russo tinha um sorriso de 64 dentes, esfuziante. Estava rolando, era real e ali. A porra do medo de que a coisa miasse tinha ido pro saco, valia a pena de novo, valia a pena brigar por aquilo e suar por aquilo. Era foda, barato, perto, foda de novo, pesado e voador como um rinoceronte com as asas de nossas cabeças. Corríamos como nunca, éramos a parte solta de um mundo despirocado e deslocado do velho eixo. Não era a badalação boateira nem a praia lotada; não era o nheco-nheco do Beco nem a cuzice do calçadão; não era a marra vazia dos shows de verão nem os paraísos de plástico das raves. Era a pilantragem pura e malaca, safada e cheia de ginga com e sem a bola nos pés. Era mais uma vez a noite de 24 horas, sem os relógios nos pulsos.
9 Comments:
Às vezes ainda me questiono, se todas as lembranças que tenho daquela época são mesmo reais ou foram modificadas pelos excessos aliados a minha pouca idade e/ou pela péssima memória que me é peculiar...
Pelo menos vc ainda está por aí e não me deixa mentir sozinha e ainda me faz lembrar de alguns flashes.
Letícia
Tenho uma memória prodigiosa pra coisas assim.
Mas algumas histórias não posso contar, pois só as sei pela metade.
Este comentário foi removido pelo autor.
Acabou, só tem neguim frouxo por aí.
estava presente em vários destes rocks e na inauguração e no fechamento tb.!!!!
outro dia passei na Guaibura e me lembrei de mariquito, que quando viu que a casa onde funcionou a fase 2 do bar do russo havia sido demolida disse:"meu Deus, será que aquilo tudo foi um sonho, ou aconteceu mesmo"
ehehehehehe!!!!!
memories still remains!!!!!
Ele me ligou de lá quando disse isso, Paulinho, hahahahaha!
Caralho ! Só boas lembranças !
Lembra daquele papo que tivemos no msn sobre o Russo?
Russo destroi !
Russo é o Coisa.
Caio realmente acabou, "só tem neguim frouxo por aí", incluindo você, porra vive relembrando de um passado que não volta mais, sim e uma parte da vida de muitos que aqui postam, mas e hora de seguir, bola para frente seu FILHO DE UMA PUTA...
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