Era bem moleque quando os meus avós maternos me puxavam pra feira em São Cristóvão. Tava na folga da escola e pulava pra rua, serelepe que só. Mão na mão de minha avó, e de olho no meu avô. Ir até a feira era um dos grandes baratos escancarados de meu começo de caminhada. Meu avô morto, a falta que a silhueta dele me fazia e ainda assim eu lá seguia a minha avó, subúrbio carioca adentro. Uma puta gritaria, a zorra estranhamente estruturada de verduras, legumes e frutas. A xepa em que eu me esbaldava, sujo até os ossos. A sacanagem malandra, maravilhosa e cheia de duplo sentido da rapaziada nas bancas a gritar: "Olha a alface, gostosa!", e lá partia a cliente bunduda a saber que aquela vírgula era o grande lance da curtição. Os berros de minha avó buscando a freguesia escorregadia, o rádio ligado numa FM qualquer a cantar esporrento uma canção do Roberto. Eu sorria paca, pululando cá e acolá sob o rabo de olho de minha avó. Bagunça e festa pra criança nenhuma botar defeito. A feira era a extensão zoneada de meu quarto e de minha vida. Depois chegar suado em casa e abraçar a minha mãe, gargalhando e doido pra comer mais alguma coisa. Sacar meu pai vindo do trampo, sabendo que era ele a dobrar a esquina só pelo assovio secreto, nossa combinação. As feiras ficaram pra trás. Minha mãe morreu. Minha avó morreu. O assobio de meu pai ainda tá aqui, e meu pai também. Pegue todas as tuas lembranças de menino e, se você puder, abrace o teu pai, a tua mãe e teus avós. Meu pai vou abraçar logo, logo. Minha mãe e minha avó vou abraçar assim que pegar no sono, numa feira em outra dimensão.
3 Comments:
Quando você encontrar o sentido da vida me manda um postal! :)
Vai ser difícil...
Ta querendo me fazer chorar?
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