O TRABALHO
Eu tive um colega de trabalho que era o funcionário preferido do chefe. O patrão falava para todo mundo que o dito cujo deveria ser modelo para os outros empregados seguirem e coisas do tipo. Só que o tal funcionário odiava profundamente o seu chefe: “se eu passar de carro na rua e ver o vagabundo passando a pé, não penso duas vezes – atropelo e mato!”. Também já trabalhei ao lado de um cara que comia em frente ao computador o tempo inteiro. E, depois que ele ia embora, eu era obrigado a me transferir para a sua mesa, toda suja de farelos, com teclado e mouse melados de alguma porcaria gordurosa que o imbecil largava de rastro para mim todo santo dia. Fora que o FDP sempre deixava baixando um monte de filmes pornôs que traziam uma porrada de vírus para o mesmo PC – e eu invariavelmente levava esporro por tabela do web master da empresa. Se o puxão de orelha fosse somente sobre os mais de 10 GB diários que eu baixava de música, até tava valendo...
Outro patrão que tive era um garoto recém-formado, que havia ganhado um web site/empresa do papai para brincar de Bill Gates, naquela época em que todo mundo achava que ficaria rico com internet sem saber direito como (entre 1999 e 2001). O carinha era um pequeno nazista, adorava exercer autoridade em tudo, até mesmo sobre a quantidade de papel higiênico gasta no banheiro (eu e mais um sujeito rivalizávamos neste quesito, digamos, sanitário). Ele bancava o machão pra todo mundo, mas um programador prodígio (um guri de 16 anos) vivia fuçando tudo ali e descobriu que o mesmo chefe freqüentava chats com pseudônimo feminino. Só sei que, numa bela tarde, o chefinho falou que precisava se concentrar em sua sala de trabalho, mas que na verdade era o colega hacker que havia marcado um encontro pelo chat com o mesmo chefe – sem ele saber que se tratava de uma armação. Nosso patrão, tão mau, macho e autoritário, estava irradiante sob sua persona feminina na conversa com o que ele achava que era um rapaz saradão da Praia da Costa. Rolou até troca de telefones...
*O tal colega de trabalho hacker caiu fora em busca de um intercâmbio nos EUA e deixou um vírus de presente – que fodeu com todo o sistema e acabou por adiantar o processo de falência da empresa; e o tal chefe nunca soube que aquela conversa no chat era sacanagem e que todos os funcionários estavam rindo da cara dele diariamente.
Quando você trabalha numa empresa, rodeado de todo o tipo de ser humano que possa existir, sempre histórias curiosas e engraçadas surgirão. Já compartilhei uma sala com um figura que claramente era desequilibrado mental, mas que a chefia o adorava. Também tem aquela galera que adora esticar o convívio do emprego para além da empresa. Eu, particularmente, sempre odiei happy hour com colegas de trabalho – já aturo estas figuras o dia inteiro e ainda vou beber com eles?!? Amigos que surgem do trabalho foram muito poucos na minha vida. Porém, recentemente (há dois anos, para ser mais exato), rolou uma situação que não teve nada de engraçada. Fui salvar meus arquivos de um local onde fiz um free lance por seis meses e, quando acionei a busca por uma pasta com músicas que haviam sumido do diretório onde as havia guardado, me deparei com milhares de arquivos de pedofilia que nem estavam tão escondidos assim. Aquilo me enojou como nunca antes na minha vida (eu nem vi as fotos, apenas bati o olho de relance no nome dos arquivos). Enfim, ambiente de trabalho é um Big Brother da vida real, pois é o local onde você passa a maior parte do dia, e tudo o que rola ali influencia diretamente na sua vida pessoal.
É por isso que eu gostei tanto da série “The Office” (versão norte-americana) quando a assisti pela primeira vez. Tudo ali é um tanto quanto exagerado e caricato, é verdade. Mas, na boa, tem coisas que você vivencia no seu ambiente de trabalho que podem ser tão grotescas que a série citada acaba sendo fichinha perto do que está rolando na vida real. E aquele Steve Carell é um pilantra filha-da-puta de um ator desgraçadamente bom. Seu personagem – o chefe, é um cara-de-pau, patético e canalha como muitos patrões que você teve/tem que aturar por aí. Eu não tenho TV a cabo, assisto a série na casa de terceiros quando dá, mas parece que agora saiu em DVD. Veja, ria da desgraça do mundo real retratada ali de forma divertida na ficção. E nunca se engane: se um dia você chegar à chefia, todos vão querer a sua caveira. Não existe este lance de que todo mundo gosta do chefe. Isso é ilusão de quem acha que pode ser adorado numa situação onde somente você – o chefe – é quem vai ditar se o dia/semana/mês do funcionário vai ser terrível ou apenas normal nesta estranha relação de escravidão remunerada.
9 Comments:
já passei o olho por essa série em minha tevê à gato, mas sempre exaurido de minha paciência rotineira (será) devido às tais estranhas relações ocorridas entre às 8:00-18:00 horas do meu dia. Vou prestar mais atenção.
Mas baixei o novo filme do Lars Von Trier, comédia que também retrata de forma caricata a "vida" em um escritório.
No filme Von Trier interpreta um chefe que atribui a liderança a um chefe fictício e ao vender a empresa contrata um ator para fazer o papel do Chefão.
Estou ansioso.
:)
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Paranoid Android.
Existe um filme bem legal sobre esse lance de escritório... acho que se chama exatamente The Office. Aqui creio que foi traduzido pra Como Odiar Seu Chefe ou algo parecido.
Sinceramente eu tentei assistir umas duas vezes essa série. Um dos episódios me fez rir barbaridade, no outro me fez dormir.
O Steve é um cara foda e merece uma nova chance de minha parte!
Estou curioso p/ este filme do Von Trier. Espero que esta porra baixe aqui no cine Metrópolis!!!
kalunga, se quiser uma cópia em dvd, vamos conversar isso aí...
beleza?
the office demora para bater, mas quando bate...
virei fã incondicional!!!
Taylor
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