jornalista tem código de ética?
O novo código de ética do Jornalismo, lançado no mês passado, não traz grandes novidades, mas se encabeça na lista da desenvoltura moral desse país. Há uma discussão a respeito da censura e da liberdade da informação e da expressão, porém, o que hoje é mais preocupante é o relacionamento do cinismo com a verdade.
O descaramento se tornou notório e cultural e a verdade sempre foi aquela que estiver conveniente às convenções elitizadas por pequenos grupos de forte pressão ideológica, ainda muito católica e burguesa, ou até mesmo neo-emergente-pentecostal.
Fazer-se de um apelo deontológico, uma ferramenta de conduta profissional é, no mínimo, declarar o mau caráter coletivo, tanto da imprensa como emissor, quanto do público como receptor, isso sem falar do indivíduo fonte, pois esse é o elemento mais descompromissado para com a verdade.
O que parece é que quanto mais a fonte tiver uma importância na solução da verdade e essa for de interesse geral, ela segura a informação, ou a delimita a sua própria avaliação de importância. Eles querem utilizar-se dos Meios de Comunicação de Massa e o de Não Massa para a promoção e esquecem-se de suas funções sociais e de cidadania. É só reparar, o Jornal Nacional está com a mesma pauta e com o mesmo formato do programa do Leão Lobo ou da Sônia Abraão. É mais fácil acharmos uma denúncia num documentário ou num filme brasileiro do que na imprensa.
Bom, Entre as principais mudanças na nova versão do código, destacam-se duas redundâncias: a inclusão de artigos sobre o uso de câmeras e gravadores escondidos em reportagens, manipulação de imagens digitais e artigos reiterando a função de assessoria de imprensa como uma atividade jornalística.
Na primeira, fica claro que o cinismo irá se destacar na justificativa, pois será permitido o uso de gravadores e câmeras escondidos quando o assunto for importante para o interesse público, aliás, nesse caso, é permitido até tortura e suborno. A questão da manipulação das imagens se explica pelas questões técnicas de edição e espaço na programação, ou seja, ela tem que ser mexida mesmo, e já que é assim, será sempre feita com interesse restrito. E Assessor de Imprensa sempre foi Jornalista, o problema é que tem uma porrada de publicitário e relações públicas (sacaram? Jornalista com maiúscula e publicitário e rp com minúscula) fazendo assessoria e de foram errada, cachorra, capixaba, ruim, amadora, mercenária e incompetente por aí.
Por fim, o que analiso é que não basta um código que não tenha um mecanismo real de estipular a conduta moral do Jornalista, já que todos sabemos que, na vida, existem outros interesses e pressões maiores que a ética. E o falso “ASSIM NÃO DÁ!”, “AGORA CHEGA!” fazem parte desse jogo, são os contemporâneos pão e circo.
7 Comments:
Muito pertinente este post, Mentor.
Sobre a conduta ética da imprensa, particularmente dos telejornais - mais precisamente o Jornal Nacional (que encabeça o agendamento de notícias p/ que os demais o sigam): páre, por ex, para notar o comportamento da Fátima Bernardes. É quase uma atriz!!! O poder de envolvimento dos apresentadores da Globo para com o telespectador inclui um carisma do tamanho da extensão de transmissão da própria tv brasileira. A questão ética em si é afundada em torno deste jogo emocional. A espetacularização da notícia aparece de forma absolutamente transparente neste telejornal, com os blocos sendo divididos em capítulos como se fossem de uma telenovela. Feito isso - carisma+credibilidade+jornalismo muitíssimo bem feito (não há como negar o alto nível técnico do "padrão Globo de Jornalismo"), não há discussão ética alguma. Há discussão do telespectador sobre o assunto abordado, e não sobre a forma como foi abordado.
continua...
O jornalista de uma determinada redação segue o seu editor lhe ordena. O editor segue a posição político-sócio-econômica da empresa jornalística que sustenta tal meio de comunicação. A função social e de cidadania só ocorre de fato em situações de calamidade pública, pois mesmo as campanhas anti-drogas, contra racismo e de AIDS são incompletas, contraditórias, vazias e ineficazes.
Imagino uma invasão alienígena ocorrendo de forma destruidora. Aí cada um vai correr p/ salvar sua própria pele junto das pessoas mais próximas e/ou que podem lhe dar amparo.
Se rolar algum tipo de controle na mídia, pode-se ter a certeza de que cada um vai vazar p/ o lado que lhe for mais conveniente...
A Assessoria de Imprensa sempre vai ser questionada se é ou não uma atividade jornalística, pois esta prática profissional lida também com persuasão - atitude tão comum à publicidade e à propaganda.
Eu trabalho com assessoria de imprensa, e tento "vender" matérias de mídia espontânea (não paga), mesmo que os fatos que eu esteja divulgando sejam uma mentira. Existe ética nisso??? Nem fodendo!
...
É foda Kalunga. Não há ética, mas há um código silencioso nesse jogo que dá as cartas e vigia com câmeras e seguranças altamente treinados. O Brasil é um grande cassino hipócrita, que ainda finge culpa e revolta.
Eu percebo que a moral está sem regras e sem princípios. Ela se perdeu nas ruas e na lei da sobrevivência. O cinismo se institucionalizou e está em nossas novelas, filmes, literatura. Saca? Macunaíma é nosso herói e nele podemos avaliar o pensamento brasileiro. Assim como também na figura de Lampião. Ainda não sabemos se ele era bandido ou mocinho.
O jornalismo faz parte desse simulacro social e quanto mais representativo for, mais ele criará tendências, como por exemplo, o bem citado Jornal Nacional.
Há algumas soluções e todas elas libertárias, de trincheira, alternativas e na maioria delas vejo um espelho com a imagem invertida da situação que aí está e não sei se esse é uma boa solução.
Na verdade tem que haver uma tomada de consciência radical e não híbrida como a de costume, mas essa quebra de paradigma está cada vez mais distante e cada vez mais necessária.
Os blogs coletivos, por exemplo, são grandes trincheiras. Mas se eu entupir o Volume Quatro de posts como esse, a galera, com toda a razão dela, irá me castigar, assim como eu já castiguei nêgo que estava postando compulsivamente coisas chatíssimas.
Eu gostaria de debateresta questão mais profunamente. Mas, infelizmente, não tenho acesso à internet em casa - estes tês comments que fiz rolaram do meu local de trabalho.
Mas, enfim, mande bala que de alguma forma eu vou encarar o debate, mesmo quetenha que escrever algo sem poder pensar muito mais profundamente.
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