*Dedicado aos irmãos que viram, vibraram, suaram, lutaram, choraram e arrancaram as vísceras no começo da década de 90. Fale a verdade - você (que estava lá): foi um ano espetacular, não?
*1993 foi o último ano glorioso do rock. 1994 prometia, mas teve os seus miolos ridiculamente estourados em abril. Sintomático que o seu fim tenha sido detonado justamente por quem arrancou o velhinho da pasmaceira - em 1991. Ano do caralho, esse aí. Uma folhinha que proporcionou coisas finas e definitivas para a década como "Nevermind", "Blood Sugar Sex Magik" e "Metallica (Black Album)". O mesmo ano que deu ao mundinho pop brazuca o pra lá de subestimado "V", disco viajandão, arrastado e perfeito do Legião. Claro, claro, George Bush e Saddam Hussein no atraque louco, os sertanejos de ocasião infestando a Casa da Dinda e a seleção brasileira caminhando intacta para o medíocre quarto título mundial... Mas havia um senhor algo mais no ar; aquela sensação perdida de que o rock, caramba, o rock ainda podia dar um belo chute nos bagos de uma classe média anestesiada e conformista. Um clima (santa ingenuidade, Batman!) que nos dizia, agora sim, que o verão punk de 1976 finalmente arrombaria (arrombara?) os portões do castelo. A idéia de que finalmente o rock conseguiria (conseguira?) a necessária mistura de tesão, integridade e cinismo capaz de driblar tal qual um Garrincha hendrixiano o sistemão e a sua boca de mil dentes. Seattle, apesar de todas as distorções que a babação desenfreada acarreta, surgia como legítima cidade rockeira, desencanada e sacana, instigando a multiplicação de seu suor, sua raiva, seu tédio e sua vontade de partir (d)este planeta. Parece (e é) patético falar de música suja, perigosa e pegajosa nas quebradas de hoje, e nem faz tanto tempo que toda essa loucura nos arrastou. Os cínicos de sempre hão de criticar a volúpia com que nos entregamos todos, e estarão prontos para nos esfregar nas fuças a absorção e fácil digestão de tudo pelas engrenagens da grana que destrói coisas belas. Mais que cruéis, são covardes. Saudosismo, sacarina paca, eu sei. Mas se não chorarmos as nossas perdas, quem o fará? 1991 (e seu rebento 1992) foi o ano que vivemos em perigo, o ano em que demos um pouco mais de cada um de nós e do qual saímos homens um pouco melhores. As memórias que temos, amigos, essas jóias não podem nos arrancar...
*1993 foi o último ano glorioso do rock. 1994 prometia, mas teve os seus miolos ridiculamente estourados em abril. Sintomático que o seu fim tenha sido detonado justamente por quem arrancou o velhinho da pasmaceira - em 1991. Ano do caralho, esse aí. Uma folhinha que proporcionou coisas finas e definitivas para a década como "Nevermind", "Blood Sugar Sex Magik" e "Metallica (Black Album)". O mesmo ano que deu ao mundinho pop brazuca o pra lá de subestimado "V", disco viajandão, arrastado e perfeito do Legião. Claro, claro, George Bush e Saddam Hussein no atraque louco, os sertanejos de ocasião infestando a Casa da Dinda e a seleção brasileira caminhando intacta para o medíocre quarto título mundial... Mas havia um senhor algo mais no ar; aquela sensação perdida de que o rock, caramba, o rock ainda podia dar um belo chute nos bagos de uma classe média anestesiada e conformista. Um clima (santa ingenuidade, Batman!) que nos dizia, agora sim, que o verão punk de 1976 finalmente arrombaria (arrombara?) os portões do castelo. A idéia de que finalmente o rock conseguiria (conseguira?) a necessária mistura de tesão, integridade e cinismo capaz de driblar tal qual um Garrincha hendrixiano o sistemão e a sua boca de mil dentes. Seattle, apesar de todas as distorções que a babação desenfreada acarreta, surgia como legítima cidade rockeira, desencanada e sacana, instigando a multiplicação de seu suor, sua raiva, seu tédio e sua vontade de partir (d)este planeta. Parece (e é) patético falar de música suja, perigosa e pegajosa nas quebradas de hoje, e nem faz tanto tempo que toda essa loucura nos arrastou. Os cínicos de sempre hão de criticar a volúpia com que nos entregamos todos, e estarão prontos para nos esfregar nas fuças a absorção e fácil digestão de tudo pelas engrenagens da grana que destrói coisas belas. Mais que cruéis, são covardes. Saudosismo, sacarina paca, eu sei. Mas se não chorarmos as nossas perdas, quem o fará? 1991 (e seu rebento 1992) foi o ano que vivemos em perigo, o ano em que demos um pouco mais de cada um de nós e do qual saímos homens um pouco melhores. As memórias que temos, amigos, essas jóias não podem nos arrancar...
7 Comments:
"As memórias que temos, amigos, essas jóias não podem nos arrancar..." - esquecer é impossível quando se tem memória.
belo post, pra variar, escreva logo um livro porra!
sobre as passagens da música!
O começo da virada pra mim foi exatamente em 1990 quando o Faith No More aconteceu em minha vida. A abertura foi providencial e benvinda, acomodando muito do que rolou nos anos seguintes.
Lembro perfeitamente do impacto do FNM no RIR II (janeiro de 1991). Antes do Nirvana surgir pro mundo, do RHCP estourar e do Metallica lançar o seu "Black Album". E lembro tb que todos piraram com o show dos caras, mesmo sem entender muito bem o que estava acontecendo.
Fiquei com pena do GNR, que tocaria logo a seguir.
perfeitas colocações! sinceramente, esta época citada foi o último respiro do rock como um todo, aquele que de fato inspirava perigo, afronta, quebra de paradigmas. E a partir da segunda metade da década de noventa, ocorreu a revolução da música eletrônica, capitaneada por Prodigy e Chemical Brothers, trp-hop, jungle, techno, enfim, todo mundo descobriu as maravilhas dos beats digitais. Anos 2000 estão devendo e muito!
Dizia o "blue eyes": It was a very good year...
Os mais velhos podem dizer que não houve uma revolução maior do que o punk, mas a virada da década 80/90 tinha um sentimento de "algo vai acontecer" no ar que era um colosso!
O lance agora é que a música em si tem outra reviravolta, mas não mais de estilo, mas sim na sua percepção e o modo como se relacionará com o público.
Nostradmus perde, pois lembro-me de falar isso na época que a Bizz colocava sempre o "futuro do rock" como um estilo (o infame funk'o metal, depois o eletrônico punk, depois o alternativo radioheadzístico, depois...) e eu dizia que era como a música chegaria no ouvinte. Minha idéia só diferia no sentido que a música mudaria pelo público ter mais interesse de ir em shows e não pelo cd ou estilo...
Sei lá... hehehehehe
Bom, antes de comentar o post, tenho algo a dizer: os comentarios do sujeitinho "mary anne" em sua maioria sao e continuam sem sentido.
Se houver um voto a favor,deletarei.
Sendo persona non grata neste espaço, que apesar de tudo tenta ser democratico em ideias e porraluquices, o tal "mary (...) ja deu mostras de quao nocivo é.
Um voto,unzinho...
"E a partir da segunda metade da década de noventa, ocorreu a revolução da música eletrônica"
Só se foi no Brasil Kalunga... A revolução MESMO aconteceu na Europa e nos EUA desde 1989/1990, viráda da última década do século.
A gente só sentiu as ondas desse tsunami musical lá pelos idos de 1995, com o Big Beat invadindo nossos tape-decks.
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